Município: microescala operacional para promover saúde planetária

07 jun

Município: microescala operacional para promover saúde planetária

saúde planetária By No Response

O planeta possui dimensões enormes na perspectiva da escala de vida cotidiana de um ser humano comum. Os atributos físicos humanos impõem limites nas jornadas diárias sobre o território que serve de base para sua vida. Somente por meio das tecnologias da revolução industrial, há pouco mais de 200 anos, a relação do homem com o ambiente vem mudando. A criação de meios de transporte como trens, navios, automóveis, aviões permitiram que seres humanos percorressem grandes áreas em pouco tempo e assim o processo civilizatório se acelerou.

Várias descobertas científicas ampliaram a capacidade tecnológica dos seres humanos se adaptarem em diferentes contextos ambientais e combinado com modelos econômicos, industrialização e produção de alimentos em escala vários problemas básicos de subsistência foram solucionados. O resultado foi a explosão demográfica, passamos de cerca de 1 bilhão de seres humanos em 1800 para 7 bilhões em 2013, hoje as projeções já indicam que somos mais de 7,6 bilhões. Esse crescimento populacional e transformações socioeconômicas foram gradativamente levando os seres humanos tornarem-se cada vez mais urbanos. Dados da divisão populacional da UN DESA (2018) registram que 55% da população humana do planeta vivem em regiões urbanas, as projeções para 2050 é que será 68%.

No Brasil, de acordo com dados do censo de 2010 apresentados em Cavararo (2017), tínhamos 5565 municípios com uma população urbana de 84,4%. Isso porque no Brasil e outros países da América Latina ocorreu um processo de urbanização acelerada e desorganizada em grandes centros urbanos (metrópoles) e também urbanização em municípios pouco viáveis com população menor que 10.000 habitantes os quais representaram 45% (2515 dos 5565) dos municípios em 2010.

O relatório da Saúde Planetária de Whitmee et al. (2015), aponta a necessidade de salvaguardarmos a saúde humana nesta época do Antropoceno, termo que significa período mais recente da história planetária caracterizado pelo impacto das atividades humanas perturbando equilíbrio dos ecossistemas naturais mantenedores da vida no planeta. O crescimento populacional humano acompanhado estilo de consumo e padrões de produção geraram crescimento econômico (aumento do PIB) e melhoria de alguns indicadores humanos (aumento da longevidade), porém tais resultados vieram acompanhado também de outros problemas como iniquidades socioeconômicas e ameaças aos limites dos ecossistemas responsáveis pela saúde planetária.

Uma característica chave desta era do Antropoceno é a tendência à hiperurbanização acelerada que gera vários problemas e resulta em baixa qualidade de vida nas cidades. Um dos pontos críticos do estilo de vida urbano é ser cada vez mais desconectado dos ambientes naturais o que gera desvalorização, desconhecimento e irresponsabilidade pelos ecossistemas planetários.

O Ideia Ambiental vem promovendo a estratégia para criar saúde planetária por meio da valorização da vida em municípios médios capazes de integrar tanto os aspectos positivos socioeconômicos e culturais da vida urbana quanto aspectos salutogênicos (geradores de saúde) da vida próxima aos ambientes e ecossistemas naturais. O município é a microescala planetária operacional mais adequada para as transformações socioambientais e tecnológicas que podem reverter os efeitos do Antropoceno. Existem muitas vantagens em morar em municípios médios que geram mais qualidade de vida, são exemplos: menos perda de tempo em trânsito, mais contato significativo com as pessoas e com os ambientes rurais e naturais. Um conjunto de municípios integrados formando uma microrregião possibilitam parcerias e otimizações de recursos que potencializam ainda mais os efeitos positivos dos municípios médios para a saúde planetária.

Vários projetos visando lidar com o inevitável problema da urbanização colocam o foco nas cidades (centros urbanos) e disso decorre uma competição pela melhor solução: cidades adaptativas, cidades amigas das crianças, cidades amigas do idoso, cidades circulares, cidades conectadas, cidades conscientes, cidades criativas, cidades em transição, cidades felizes, cidades inclusivas, cidades inteligentes, cidades lentas, cidades regenerativas, cidades resilientes, cidades saudáveis, cidades sustentáveis, cidades verdes, cidades vivas, etc. Entendemos que todas essas abordagens são importantes e precisam ser integradas no planejamento cooperativo de municípios médios e das integrações microrregionais mas, fundamentalmente, precisam considerar a vida além do ambiente urbano (cidade) e incluir os espaços vitais do ambiente rural e natural presente nos municípios. Um exemplo importante nessa nova estratégia é transformar a referência geopolítica dos municípios criada a partir da visão antropocêntrica e organizar parcerias municipais em microrregiões para construir novas referências hidrogeopolíticas que respeitem o valor das microbacias no contexto da saúde ambiental e serviços ecossistêmicos.

O Ideia Ambiental reconhece o problema da hiperurbanização e incentiva o planejamento de cidades médias e integrações microrregionais com utilização progressiva de tecnologias capazes de viabilizar o bem-estar municipal (DataBEM – Big Data para o Bem-Estar Municipal) por intermédio de monitorização integrada de indicadores do bem-estar populacional, sociocultural e ambiental que resultem em inteligência para tomada de decisão, investimentos conscientes sustentáveis, empreendedorismo socioambiental, construção de políticas públicas baseadas em evidências e dados locorregionais confiáveis.

 

Referências

 

Whitmee, S., Haines, A., Beyrer, C., Boltz, F., Capon, A. G., de Souza Dias, B. F., … & Horton, R. (2015). Safeguarding human health in the Anthropocene epoch: report of The Rockefeller Foundation–Lancet Commission on planetary health. The Lancet, 386(10007), 1973-2028.

Cavararo, R. (2017). Classificação e caracterização dos espaços rurais e urbanos do Brasil: uma primeira aproximação / e-book, IBGE, Coordenação de Geografia. – Rio de Janeiro, RJ.

 

 


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